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Espionagem chinesa é a principal preocupação com veículos conectados

Estados Unidos planeiam apertar a regulamentação dos veículos conectados que têm tecnologia proveniente de países “preocupantes” como a China

14/03/2024

Espionagem chinesa é a principal preocupação com veículos conectados

No final de fevereiro, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou “ações sem precedentes para garantir que os carros nas estradas dos EUA provenientes de países preocupantes como a China não prejudicam a nossa segurança nacional”. Neste sentido, solicitou ao Departamento de Comércio o lançamento de uma regulamentação avançada (ANPRM) sobre veículos conectados com tecnologia destes países, procurando estabelecer medidas como resposta aos riscos.

A ANPRM do Gabinete de Indústria e Segurança (BIS) adiantou que está a ser considerada a proposta de regras que estabeleçam a proibição de determinados tipos de tecnologias e serviços de informação e comunicação (ICTS), assim como de transações por qualquer pessoa sujeita à jurisdição ou direção de governos estrangeiros selecionados. Os governos em questão incluem a China, a Região Administrativa Especial de Hong Kong, Cuba, Irão, Coreia do Norte, Rússia e Venezuela.

O BIS espera recolher informações relevantes para as tecnologias e participantes do mercado que poderão ser adequadas no âmbito da potencial regulamentação final. A ANPRM foca-se nos governos estrangeiros ou partes relacionadas que poderão representar um risco de sabotagem, eventos catastróficos ou outras ameaças às infraestruturas críticas norte-americanas ou à segurança nacional.

Além destes riscos, a ANPRM considera que a China representa provavelmente a ameaça de ciberespionagem mais ampla, ativa e persistente para o governo norte-americano e para as redes privadas. De acordo com os especialistas, o risco de espionagem remete especialmente para uma ameaça chinesa mais significativa ao mercado emergente de veículos conectados.

“A estrutura jurídica da China também confere ampla autoridade ao Estado para cooptar empresas privadas para prosseguirem com os seus objetivos”, sublinha a ANPRM. Isto prende-se com o facto de que existem leis que dotam o governo chinês da capacidade de obrigar as empresas dentro das suas fronteiras – como os fabricantes de automóveis e respetivos fornecedores – a cooperar com os seus serviços de inteligência e segurança.

“A combinação de autoridades legais e a influência opaca do PCC tornam as empresas privadas sujeitas à jurisdição da RPC [República Popular da China] suscetíveis a pedidos de oficiais de inteligência e militares. Os funcionários da RPC podem obrigar as empresas da RPC a fornecer ao governo da RPC dados, acesso lógico, chaves de encriptação e outras informações técnicas vitais, bem como a instalar backdoors ou bugs em equipamentos que criam falhas de segurança facilmente exploráveis pelas autoridades da RPC”, alerta a ANPRM.

A ANPRM refere ainda que, “de acordo com relatórios de código aberto, mais de 200 fabricantes de automóveis que operam na RPC são legalmente obrigados a transmitir dados de veículos em tempo real, incluindo informações de geolocalização, para centros de monitorização governamentais”

Atualmente, não existem dados que indiquem a quantidade de tecnologia chinesa presente nos veículos conectados produzidos nos Estados Unidos ou noutros países ocidentais. No entanto, há mais de duas décadas que a China tem procurado dominar o mundo dos veículos elétricos, sendo que a Gigafactory de Xangai foi responsável por mais de metade da produção de carros da Tesla em 2022. Além disto, o fabricante de automóveis chinês BYD conseguiu ultrapassar a Tesla como o principal fabricante de veículos elétricos a nível mundial, no último trimestre de 2023.

“A China quer liderar o mundo nos veículos elétricos e está a produzi-los”, comenta Lindsay Gorman, investigadora sénior para tecnologias emergentes, Alliance for Securing Democracy do German Marshall Fund. “A estratégia é geralmente copiar a melhor tecnologia e os melhores processos e depois deslocar esses concorrentes, ao mesmo tempo que proporciona um ambiente de mercado ao qual as empresas privadas têm muita dificuldade em dizer não por causa da mão-de-obra barata, da produção menos dispendiosa e provavelmente menos regulamentações e obstáculos a serem enfrentados na superfície”.

“Eu não ficaria surpreendida se as empresas de automóveis da RPC tomassem nota de como estes fabricantes internacionais operam e tivessem um projeto para substituir os Audis e os BMWs do mundo nos próximos dez, 20 anos”, remata Gorman. “O que provavelmente veremos serão muitos casos em que a China investiga o papel dos dados e o valor estratégico nacional dos dados nos nossos sistemas conectados”.


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