Threats
Os planos das empresas de redes sociais para alargar o uso da encriptação de ponta a ponta podem colocar crianças em risco
12/12/2020
A questão da tecnologia e a sua utilização por crianças é um assunto controverso. A Comissão para as Crianças de Inglaterra publicou um relatório intitulado "Access Denied", que se alargou à forma como a encriptação de ponta a ponta está a ameaçar a segurança das crianças online. O objetivo central do argumento do relatório é que os planos futuros das empresas de redes sociais para aumentar o uso de mensagens encriptadas tornam impossível que as plataformas monitorizem os conteúdos. O relatório sublinhava que a maioria das crianças de oito anos está a usar aplicações de mensagens instantâneas, supostamente restritas a pessoas com 13 ou mais anos. "A geração das crianças de hoje nasce e cresce num mundo de conexão instantânea", afirma a comissária Anne Longfield. "Embora os adultos possam entrar em pânico sobre os efeitos a longo prazo de uma 'infância digital', a vida das crianças online está longe de ser totalmente negativa". "No entanto, a minha experiência neste papel também me revelou o enorme fosso entre os riscos para as crianças de estarem online e salvaguardas", acrescentou. "Embora exijamos, com razão, proteções para que as crianças possam encontrar danos no mundo físico – em escolas, hospitais e grupos de brincadeiras, por exemplo – tenho encontrado, rotineiramente, uma perigosa ausência de mecanismos de salvaguarda semelhantes na esfera digital". O foco deste estudo recorre a serviços de mensagens, como o Whatsapp ou o Facebook Messenger, que aumentaram de popularidade nos últimos anos, onde Longfield dá a conhecer um inquérito que mostra que nove em cada dez crianças entre os oito e os 17 anos utilizam estes serviços. E enquanto a grande maioria está a usar plataformas de mensagens para conversar em segurança com amigos e familiares, o inquérito descobriu que mais de um terço das crianças dizem ter recebido algo que as fez sentir-se desconfortáveis num desses serviços de mensagens. Na verdade, a sua pesquisa descobriu que cerca de uma em cada seis raparigas entre os 14 e os 17 anos tinha recebido algo angustiante de um estranho. "Como estes serviços são, pela sua própria natureza, privados, acedidos no próprio telemóvel de uma criança, por exemplo, pode ser difícil para os pais, cuidadores e professores acompanharem ou entenderem quem os seus filhos estão a contactar por mensagem direta", explica. É então que surge o problema da encriptação, uma vez que, "tendo em conta estes riscos reais para as crianças, esperamos que as empresas tecnológicas planeiem fazer mais, e não menos, para erradicar agressivamente e impedir a proliferação de abusos infantis nas suas plataformas". No entanto, no ano passado o Facebook e outras plataformas, como o Snapchat, anunciaram que planeiam aplicar encriptação de ponta a ponta em todos os seus serviços de mensagens. A encriptação torna impossível para a própria plataforma ler o conteúdo das mensagens, e corre o risco de impedir que a polícia e os promotores reúnam as provas de que precisam para processar os autores de exploração sexual infantil e abuso, por exemplo. "Se uma plataforma não conseguir ler uma mensagem partilhada através do seu servidor, é difícil para um Governo responsabilizá-los pelo seu conteúdo", afirma. "Temos de garantir que o Governo e a indústria tecnológica trabalhem em conjunto para incorporar a proteção das crianças na encriptação de ponta a ponta, e que as tecnologias futuras são desenhadas com a segurança das crianças em mente." |