Opinion

Desafios e Imperativos da Cibersegurança OT na Era da Convergência Tecnológica

Numa era dominada pela digitalização e integração tecnológica, a interseção entre a Tecnologia da Informação (IT) e a Tecnologia Operacional (OT) originou avanços sem precedentes na eficiência e na produtividade industrial, permitindo operações mais interligadas e eficientes

Por Rodrigo de Perez Monteiro, Senior Manager, Technology Consulting Cybersecurity da KPMG Portugal . 30/11/2023

Desafios e Imperativos da Cibersegurança OT na Era da Convergência Tecnológica

Contudo, esta integração ampliou inadvertidamente a superfície de ataque a de ameaças cibernéticas, na medida em que sistemas OT, tais como sistemas de controlo indústrial, tradicionalmente isolados e projetados para funções específicas em setores como a indústria, a energia e os transportes, estão agora cada vez mais ligados a redes mais abrangentes, introduzindo exposição a novas vulnerabilidades. Esta interconectividade levanta preocupações quanto à postura de segurança destes sistemas, especialmente quando se tornam alvos para atores maliciosos que procuram benefícios de ordem financeira, ou a simples disrupção de serviços essenciais e infraestrutura crítica.

Nos últimos anos, assistimos a um aumento significativo de ameaças cibernéticas direcionadas a sistemas OT, expondo infraestruturas críticas a riscos potencialmente catastróficos. Estes incidentes recentes destacam a gravidade das vulnerabilidades de cibersegurança OT e os seus impactos tangíveis na sociedade. Ataques notáveis a sistemas OT, como por exemplo os incidente de ransomware na Colonial Pipeline nos Estados Unidos e a sabotagem da rede KA-SAT na Ucrânia, demonstraram as consequências reais das ameaças cibernéticas OT. Estes incidentes não impactaram apenas a disponibilidade de serviços, mas representaram também riscos para a segurança pública, sublinhando a necessidade urgente de medidas reforçadas de cibersegurança OT. Segundo o relatório Riscos e Conflitos 2023 do CNCS, “Os ciberataques de teor disruptivo direcionados para sistemas de controlo industrial ou tecnologias operacionais têm feito parte da atuação de alguns atores estatais e do cibercrime”, circunstância esta que tem sido exacerbada pelo conflito Israelo-Palestiniano, bem como pela guerra na Ucrânia.

Neste cenário, a necessidade de medidas de cibersegurança fortificadas tornou-se uma preocupação premente, enfatizada ainda mais pelo impacto de regulamentações como a diretiva NIS2 da União Europeia. A NIS2 é um marco crucial para reforçar a resiliência da cibersegurança em setores críticos. Ao ampliar o âmbito e as obrigações da anterior diretiva NIS, a NIS2 estende a sua aplicabilidade a um leque mais alargado de entidades, impondo requisitos de segurança mais rigorosos e padrões de reporte de incidentes mais estritos. A diretiva visa impor uma abordagem proativa à cibersegurança, obrigando as organizações a adotar medidas rigorosas e garantir uma resposta eficaz a incidentes cyber. No entanto, a complexidade dos sistemas OT apresenta um desafio considerável na conformidade com estas regulamentações rigorosas.

Para enfrentar estes desafios, é imperativo adotar uma abordagem multifacetada. As organizações devem priorizar a segregação das redes OT de ligações externas, implementar controlos de acesso robustos, atualizar regularmente e aplicar patches aos sistemas de forma tempestiva, e implementar mecanismos avançados de deteção e resposta a ameaças adaptados a ambientes OT. Além disso, é crucial fomentar uma cultura de consciencialização em cibersegurança e garantir que os colaboradores e equipas de resposta estão preparados para lidar com estas ameaças.

Em suma, a convergência de IT e OT revolucionou as operações industriais, mas expôs igualmente a infraestrutura crítica a riscos acrescidos de cibersegurança. As regulamentações europeias, como a NIS2, servem como um farol para estruturas regulatórias, enfatizando a necessidade de medidas proativas de cibersegurança. Com esforços concertados e uma abordagem holística, o reforço da cibersegurança OT não é apenas uma necessidade, mas um imperativo para garantir a resiliência e segurança da infraestrutura crítica.

 

Os pontos de vista e opiniões aqui expressos são os do autor e não representam nem reflectem necessariamente os pontos de vista e opiniões da KPMG Portugal.


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