Opinion
Na celebração do Dia Europeu da Proteção de Dados, as complexidades da regulamentação de dados são mais evidentes do que nunca, afectando profundamente utilizadores, organizações, e cientistas de dados
Por Diogo Eduardo Santos, Docente dos cursos de licenciatura e de mestrado em Ciências de Dados e Gestão da Universidade Europeia . 29/01/2024
Do lado dos utilizadores, é notável como o Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD) reformulou a dinâmica de poder, oferecendo-lhes mais domínio sobre sua própria informação. É uma mudança cultural, onde a privacidade se torna não apenas um direito, mas uma expectativa. Os indivíduos estão cada vez mais conscientes dos seus direitos de acesso, correcção, exclusão e portabilidade de dados. É preciso que as organizações não se limitem a ser conformes, mas tomem a iniciativa de comunicar aos utilizadores as práticas de privacidade e segurança. O aumento da consciencialização sobre a privacidade e o controlo aperfeiçoado sobre dados pessoais são reflexos de uma sociedade cada vez mais digital, onde a privacidade é valorizada e protegida. O RGPD, ao exigir transparência das organizações, públicas e privadas, transforma os dados em algo mais do que um mero activo; eles tornam-se um ponto de contacto crucial com o consumidor. As empresas que se destacam são aquelas que vêem além da conformidade e investem na construção de relações de confiança, usando a protecção de dados como uma vantagem competitiva. As empresas são agora obrigadas a obter consentimento informado para o processamento de dados, garantindo que os utilizadores estejam cientes de como os seus dados são recolhidos, usados e guardados. Além disso, a gestão de riscos e a segurança de dados tornaram-se fundamentais, exigindo das organizações a implementação de medidas robustas como criptografia, controles de acesso, monitorização de intrusões e auditorias regulares. Esses esforços vão além da mera conformidade; reflectem um compromisso com a ética e a responsabilidade na era digital. Em particular, exige-se às organizações que os seus sistemas e plataformas sejam projetacdos para garantir os direitos dos utilizadores (acesso, correcção, exclusão, portabilidade). Os utilizadores devem poder facilmente gerir as suas preferências e consentimentos de dados. As bases de dados devem ser configuradas para permitir a fácil identificação e modificação de dados pessoais. A segurança e privacidade dos dados devem ser uma prioridade, com criptografia e outros mecanismos de protecção. Os processos devem ser claros e eficientes para atender solicitações dos utilizadores em relação aos seus direitos. Devem existir procedimentos internos para formar os colaboradores sobre questões de privacidade e protecção de dados. Tudo isto implica custos: investimento em tecnologia e infraestrutura para cumprir com os requisitos do RGPD; e custos operacionais associados à manutenção de sistemas e processos que suportem os direitos dos utilizadores e a consciencialização sobre privacidade. Para os cientistas de dados, o RGPD é um desafio à criatividade. Estão a ser forçados a inovar dentro de limites éticos, o que, a longo prazo, pode ser uma força motriz para práticas mais sustentáveis. A análise de dados dentro dos parâmetros éticos tornou-se um aspecto crucial, desafiando os profissionais a encontrar maneiras inovadoras de recolher e analisar dados respeitando a privacidade individual. Questões como privacidade por desenho e padrão (by design and by default) tornaram-se essenciais, obrigando cientistas de dados a incorporar considerações de privacidade desde o início do desenvolvimento de produtos e serviços. Concluindo, o Dia Europeu da Proteção de Dados é um marco positivo na evolução da nossa sociedade digital. Não se trata apenas de seguir regras, e sim de valorizar a privacidade e a individualidade num mundo cada vez mais interconectado. Em última análise, o RGPD não é um obstáculo, mas um trampolim para um futuro onde inovação e privacidade andam de mãos dadas. Os desafios podem parecer descomunais, sobretudo para as empresas. Muitas delas olham ainda para a protecção de dados como um custo, não como um investimento, e não aprenderam ainda a criar valor com os dados. As empresas vencedoras do futuro conseguirão ver os dados como uma projecção dos seus clientes. Conseguirão incorporar essa dimensão digital numa relação que se quer sustentável, ou seja, mutuamente benéfica e de longo prazo.
O autor não escreve ao abrigo do Acordo Ortográfico. |