“O erro de Maslow”

“O erro de Maslow”

“Investir em defesa porquê? - o caso do NATO Innovation Fund (NIF)”

Early-stage

As necessidades e ou motivações humanas, sempre foram motivo de preocupação social e estudo aprofundado, sendo a seu escalonamento mais conhecido a pirâmide de Maslow. Paralelamente à uma questão que perpassa os séculos e subsiste sem resposta, poderia o dinheiro investido na guerra ser investido diretamente na paz? a questão é como! Como assegurar a paz sem investir em Defesa? Como? Como proporcionar a todos, todos, todos, os seres vivos uma vida mais segura, prospera, estável e sustentável?

Este artigo visa alguma clarificação, ao equacionar uma nova reconfiguração das necessidades e ou motivações humanas, inferindo uma abordagem que coloca a ênfase na Defesa, através da elevação do investimento em segurança e defesa como um pilar essencial para alicerçar uma vida estável, sustentável e segura, que hasteie a concretização das demais necessidades na pirâmide das necessidades de Maslow. Através da análise às necessidades de Segurança e Defesa, analisa-se o papel da inovação e do investimento, especialmente no contexto da defesa, como alicerce de uma sociedade global mais serena e prospera, para a qual o Fundo de Inovação da NATO contribui com toda a sua genética dual-use(1).

Ao equacionar a melhor abordagem para redigir este artigo ocorreu-me como mais adequado desafiar os leitores para uma experiência interativa que não só enquadrasse o tema, o contexto, o conteúdo e as variáveis em análise (independentes e dependentes), com foco na tecnologia e na inovação, mas que ancore a perceção do leitor ao tema. Por conseguinte vamos começar a partir da tecnologia, aferindo inovação:

  1. Aceda no seu telemóvel ao ChatGPT
  2. Copie e cole as prompts (questões) pela ordem abaixo, na área de trabalho do ChatGPT:
  • 1ª Prompt: “Indica em forma de lista 10 tecnologias inventadas pelos militares que sejam utilizadas por todos”
  • 2ª Prompt: “Lista mais 25 tecnologias inventadas pelos militares que sejam utilizadas por todos”
  • Só para os incrédulos - 3ª Prompt: “Indica mais 160 tecnologias inventadas pelos militares que sejam utilizadas por todos”

Uma vez concretizado o desafio, certamente ficou surpreendido com a quantidade de (tanta coisa) tecnologias criadas pelos militares que são de uso generalizado. Imagino que não lhe tenha aparecido! Mas pode também adicionar a “SIRI” à lista. Sim, mais um desenvolvimento que começou como um projeto de pesquisa financiado pela DARPA(2), entre muitos outros "o paradigma contemporâneo.

Não obstante o acima referido, o paradigma alterou-se, hoje, grande parte da inovação integrada nas tecnologias militares, é realizada para lá dos muros do quartel, o que requer um Comado e Controlo (C2) capaz de alavancar um 6P (Politicas, Processos, Projetos, Procedimentos, Práticas e sobretudo PESSOAS) que ancore o Triple Helix com amarras estratégicas, também na esfera da Defesa.

Introdução (pre-seed)

Numa I2A (information & Intelligence Age), marcada por conflitos híbridos, intensos e persistentes, como os observados na Ucrânia e no Oriente Médio, a nossa perceção das necessidades humanas fundamentais enfrenta um desafio sem precedentes. A Pirâmide de Maslow, um conceito estabelecido na primeira metade do século XX, e comummente aceite como teoria da motivação humana, define uma hierarquia que começa com as de necessidades humanas básicas, como alimentação, abrigo, saúde, etc., seguindo-se as necessidades de segurança e progredindo até à autorrealização.

Esta estrutura tem sido nas ultimas décadas, relevante no entendimento das necessidades e comportamentos humanos. No entanto, o cenário atual, repleto de volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade (VUCA/BANI(3)) crescentes, os desafios globais à segurança das populações, como por exemplo os atuais conflitos armados e outros latentes, os ciberataques e até a IA utilizada com eventual dolo para causar dano, colocam em causa a validade desta hierarquia linear que requisita inevitavelmente uma revisão.

A necessidade de segurança, frequentemente vista como um degrau intermédio na pirâmide, no contexto atual emerge indubitavelmente agora como uma base fundamental, sem a qual as outras necessidades, até mesmo as mais básicas, ficam comprometidas. A segurança é de facto um pré-requisito indispensável para que todas as outras necessidades se cumpram. Note-se que sem segurança, o acesso à energia, à água, à habitação, à saúde e até mesmo os cereais ficam comprometidos. Este deslocamento na hierarquia de Maslow reflete uma necessidade de mudança fundamental a observar pela sociedade moderna, onde a segurança não é apenas uma necessidade intermédia, mas tão só, a necessidade onde toda a motivação humana se alicerça. Esta reavaliação crítica é fundamental para entendermos as prioridades atuais da humanidade e para estruturarmos políticas e estratégias que reflitam esta nova realidade, incluindo a sustentabilidade, ela própria um sobressalto de clamor por segurança de longo prazo na vida, humana e não só.

Esta abordagem reforça a visão de uma economia que se ampliou a global e aprendeu a ser glocal e parece agora caminhar para glorigional. A evolução do mundo de uma economia globalizada para a formação de placas geoeconómicas onde alguns atores assumirão um duplo papel, líderes regionais firmados mas que continuação numa competição pela liderança global, parece ser o novo state of art. Contudo, a melhor formula para prescrever a paz ensina-nos que é imprescindível estudar a guerra, e estudando a guerra e a geopolítica, clarifica-se a pertinência dos investimentos em Segurança e Defesa.

Segurança como alicerce das prioridades humanas (seed)

Maslow propõe uma hierarquia das necessidades, onde a segurança aparece no segundo nível, esta teoria é desafiada pelo contexto atual, onde a segurança emerge como uma condição sine qua non para a realização das demais necessidades. Em cenários de conflito, instabilidade política e ameaças cibernéticas, a segurança transcende sua posição tradicional, tornando-se a base sobre a qual as sociedades constroem a sua estabilidade e prosperidade, contudo a interdependência global, faz com que a segurança seja linearmente necessária, não apenas nos teatros de operações, mas também noutros palcos, veja-se o caso dos cereais a leste, dos ciberataques na estónia, ou das infraestruturas criticas a oriente, que ilustram cabalmente que sem segurança ficam inibidos de cumprir o seu propósito, suprir as necessidades básicas.

Esta reconfiguração não é apenas teórica, mas uma realidade vivenciada em diversas partes do mundo, onde a falta de segurança impede pessoas e não só, do acesso a necessidades básicas como alimentação, abrigo, saúde e educação e até mesmo do acesso á vida. Esta perspetiva é reforçada pela crescente importância da cibersegurança, um campo que transcende as fronteiras físicas e se torna essencial no mundo digitalizado. A segurança digital e dos dados, outrora um tema de nicho, é agora uma preocupação central para pessoas, empresas e governos. A interconexão global e a dependência de infraestruturas tecnológicas tornam a proteção dos cabos submarinos, dos dados e sistemas uma prioridade incontornável para a Defesa, realçando a necessidade de repensar as prioridades humanas ancorando a segurança como o alicerce fundamental. A segurança, é, portanto, a base que suporta um mundo interconectado e tecnologicamente avançado. De facto, se visitarmos o ser humano em retrospetiva, a Segurança e Defesa sempre foram o garante da evolução do ser humano, e sempre que deixaram de existir, a sociedade retrocedeu.

Economia de defesa: o alicerce da estabilidade global (series A)

A economia de defesa, tradicionalmente interpretada como um segmento que pesa nos orçamentos, é por muitos vista como um “sunk cost”, destinado ao suporte e manutenção das forças armadas, que são muitas vezes secundarizadas e até promovidas a desnecessárias, em tempo de paz, mas só o são, porque o tempo é de paz, e de paz é, porque a Defesa é o seu garante e principal alicerce. Pode mesmo afirmar-se que, se em paz estamos, é porque a Defesa está a cumprir bem o seu propósito, assumindo-se como uma pedra de toque crucial para a estabilidade e prosperidade global. Sem equívocos, afirmo que, nunca vi alguém aventar a Defesa como desnecessária em tempo de guerra, e sempre que o vi foi em tempo de paz, configurando uma imaturidade propalada do alto de uma condição estável e segura, o que encerra em si um contrassenso contraditório de alguém que nega aquilo de que usufrui, enquanto nega.

Os investimentos em defesa transcendem a sua função primária de proteção territorial, impulsionando a inovação tecnológica e contribuindo significativamente para o desenvolvimento económico. Esta interligação entre defesa e economia é particularmente evidente no contexto da inovação tecnológica, onde o investimento militar tem sido um catalisador para avanços em áreas de tecnologia avançada como, cibersegurança, aeroespacial, hipersónica e biotecnologia, internet e comunicações, etc. Tais inovações, originárias do setor de defesa, encontram aplicações civis, gerando novos mercados e oportunidades económicas. Além disso, a economia de defesa tem um impacto direto na criação de emprego e no crescimento do PIB, desempenhando um papel fundamental na estabilização de economias nacionais. Este setor também estimula a colaboração internacional, como evidenciado por iniciativas como o NATO Innovation Fund, que promove a cooperação transfronteiriça em projetos de inovação em defesa bem como o seu irmão DIANA(4), o acelerador de inovação para o Atlântico Norte. O investimento em defesa, portanto, não deve ser visto apenas como um custo, mas como um investimento estratégico que beneficia a sociedade de múltiplas maneiras, reforçando a segurança nacional e contribuindo para a estabilidade económica global. Neste contexto, a economia de defesa torna-se um pilar essencial, não apenas para a segurança nacional, mas também para o desenvolvimento tecnológico e económico, criando um ciclo virtuoso de inovação e crescimento, pode mesmo configurar-se como o porta-aviões das exportações nacionais, conforme noticiava “O expresso” em dezembro de 2021(5).

NATO Innovation Fund: um catalisador de mudança e inovação (series B)

O NATO Innovation Fund (NIF) constituído por 24 Aliados e com um capital de partida de mil milhões de euros, é um exemplo paradigmático de como o investimento em defesa e segurança pode ser um catalisador para a inovação e desenvolvimento tecnológico. Este fundo, criado pela NATO, visa impulsionar o desenvolvimento de tecnologias emergentes e disruptivas, com aplicação dual-use. A sua importância vai além da pura inovação tecnológica; representa não só o investimento direto na segurança de mais de mil milhões de pessoas, mas também uma mudança fundamental na forma como a segurança e a defesa são percebidas e financiadas. O NIF oferece uma plataforma única para a colaboração entre Aliados, unindo esforços de pesquisa e desenvolvimento para enfrentar desafios comuns de segurança. Este enfoque colaborativo não só aumenta a eficácia das soluções desenvolvidas, mas também promove a partilha de conhecimento e a integração de diferentes perspetivas e competências. O NIF é também uma oportunidade única para as empresas, especialmente start-ups inovadoras em Emerging Disruptive Technologies (EDTs) , de participarem no desenvolvimento de tecnologias de ponta. Este envolvimento não só potencia a inovação em áreas críticas para a segurança nacional e internacional, mas também fomenta o crescimento económico e o desenvolvimento tecnológico. Em Portugal, por exemplo, o NIF pode ser um motor para o fortalecimento da indústria nacional de defesa e para o estímulo ao ecossistema de inovação, habilitando uma oportunidade única para start-ups portuguesas participarem em projetos de grande escala e de relevância internacional. Através do NIF, a segurança e a defesa tornam-se não apenas áreas de investimento governamental, mas também campos férteis para a inovação privada, aproximando a Defesa das empresas e potenciando a Defesa como alavanca fundamental do Triple Hélix(6), desta colaboração entre os setores público e privado resultarão certamente avanços tecnológicos significativos para uso dual.

Portugal e a inovação em defesa: oportunidades e desafios

Portugal, com sua rica história e posição estratégica, uma das 10 nações mais antigas do mundo, com as suas fronteiras estanques (Defesa) das mais antigas do mundo, é há 75 anos, um dos 12 membros fundadores da NATO e um dos 17 Pioneiros do NATO Innovation Fund, pode por isso granjear resultados significativos no cenário de inovação em defesa, especialmente com as oportunidades que o Fundo apresenta, não será de somenos salientar que foram as inovadoras tecnologias de navegação portuguesas que estiveram na origem do mundo global, a que não será também alheia a tão apreciada criatividade Lusa.

A indústria de defesa portuguesa, embora não seja tão grande quanto a de alguns dos seus parceiros europeus, possui um grande potencial para inovação e desenvolvimento tecnológico, a “criatividade lusa” tão apreciada nos Fora, é um ativo imaterial de incomensurável valor. O envolvimento no NIF oferece a Portugal a oportunidade de impulsionar o seu setor de defesa, integrando- -se mais profundamente nas redes de inovação e colaboração internacional ao mesmo tempo que potencia as suas start-ups na esfera global, assumindo sem receio que somos de facto um povo criativo e que merecemos e devemos hastear resultados dessa condição. A este envolvimento não devem ser alheias as diversas iniciativas em torno na inovação que se vem verificando em Portugal e que contribuem inegavelmente para um amanhã mais prospero e seguro, como por exemplo o Hub ativo do Beato, a Fábrica de Unicórnios, O Websummit, e as redes de start-ups, hubs tecnológicos e centros de inovação dispersos pelo país.

Projectar as sinergias da inovação e da economia na defesa não só reforçará as Capacidades Militares de defesa do país, mas também promoverá o crescimento económico, criando empregos qualificados e potenciando novos mercados para as empresas portuguesas. Adicionalmente, a participação no NIF coloca Portugal na vanguarda das tecnologias emergentes, como inteligência artificial, cibersegurança entre outras tecnologias dual-use, que têm aplicações tanto militares como civis. Esta integração com o NIF pode contribuir para que país se afirme ainda mais como um centro de excelência para a inovação em defesa, atraindo talento, investimento e parcerias internacionais. Contudo, para aproveitar plenamente estas oportunidades, Portugal enfrenta desafios, incluindo a necessidade aumentar a sua participação em pesquisa e desenvolvimento, fortalecer o ecossistema de startups e incentivar a colaboração entre o setor privado e as instituições de defesa. Uma abordagem holística, que integre políticas públicas, indústria, academia, investimentos estratégicos e uma visão ampliada de como a inovação em defesa pode contribuir para a economia de defesa per se, mas também afirmar-se como pilar estratégico da economia nacional, para o bem-estar das pessoas e para a segurança nacional e internacional.

Tecnologias dual-use: uma ponte entre defesa e sociedade civil

As tecnologias “dual-use”, assim designadas porque podem ser empregues tanto no teatro de operações militares, como no dia a dia da sociedade civil, representam um elo crucial entre o setor da Defesa e o setor privado. Estas tecnologias, oferecem um vasto potencial para impulsionar o desenvolvimento económico e tecnológico. O conceito de Dual-use é particularmente relevante no contexto da economia de defesa, onde os investimentos realizados para fins militares podem ter aplicações práticas no mercado civil e vice-versa (recorde-se do desafio inicial), criando novos produtos, serviços e mercados. Em Portugal, o desenvolvimento de tecnologias dual-use pode ser uma alavanca para a inovação em toda a sua abrangência, permitindo que as empresas nacionais entrem em novos mercados e aumentem a sua competitividade global. Esta abordagem não só maximiza o retorno sobre o investimento em defesa, mas também estimula a colaboração entre setores, através da alavancagem da transferência de conhecimento e tecnologia entre a Defesa e a indústria civil e vice-versa.

Não obstante estas tecnologias poderem fortalecer a segurança nacional, ao mesmo tempo que contribuem para o crescimento económico e a melhoria da qualidade de vida, o seu desenvolvimento e implementação requerem uma abordagem cuidadosa e estratégica, que equilibre as necessidades de segurança com as oportunidades para o mercado. Isto implica uma cooperação estreita entre os setores público e privado, e o desenvolvimento continuo da pesquisa e desenvolvimento. Em última análise, representam uma oportunidade para Portugal e outros países combinarem as suas capacidades de defesa com os seus objetivos de desenvolvimento socioeconómico e tecnológico, um sobressalto tecnológico glorigional desejado e esperado.

Economia de defesa: porta aviões(7) de inovação e segurança

A economia de defesa, um setor tradicionalmente associado aos investimentos militares e em segurança nacional, tem um papel central no impulsionamento da inovação e no fortalecimento da segurança global. Esta interconexão entre defesa, inovação e economia é particularmente evidente no desenvolvimento de novas tecnologias, que frequentemente têm suas raízes em projetos de defesa, mas carece também de ampliar o envolvimento com a industria e academia.

Em Portugal, a economia de defesa desempenha um papel importante como contribuinte para o desenvolvimento do ecossistema de inovação que se deseja robusto e reforçado, capaz de atrair ainda mais investimentos estrangeiros e habilitar parcerias internacionais. Contudo, para maximizar o impacto da economia de defesa, é fundamental uma estratégia colaborativa bem definida e alicerçada, que alinhe os objetivos de segurança nacional com as metas de desenvolvimento cientifico, social, económico e tecnológico.

Para habilitar os menos informados recorda-se que de acordo com estudo da IdD, Portugal Defense, as atividades empresariais e do conhecimento adstritos à economia de defesa em Portugal agregam, na interação direta com o setor da defesa cerca 360 empresas, que realizaram em 2022 cerca de 4,6 mil milhões de euros em negócios, perpassando 40 diferentes sectores de atividade (o potencial do dual use), a estas empresas juntam-se 61 entidades de Investigação, Educação e desenvolvimento. A economia de defesa apresenta também ao nível dos recursos humanos, cerca de 40 mil colaboradores ao serviço das empresas (não inclui forças armadas), dos quais 6.1% estão dedicados à I&D, taxa 7.5 vezes superior à média nacional de 0.8%. Para saber mais detalhes consulte: https://www.iddportugal.pt/ economia-defesa/economia-defesa-numeros-2/

O futuro da economia de defesa: tendências e previsões

O futuro da economia de defesa será marcado por uma evolução contínua e a integração de tecnologias disruptivas. Com a digitalização e a crescente ameaça cibernética, a economia de defesa migra de um foco quase exclusivo em armamentos tradicionais, para uma imersão hibrida, onde emergem os sistemas de computação, quântica, inteligência, vigilância e reconhecimento, ciberdefesa, hipersónica e sistemas integrados e de utilização em guerras hibridas. Estas mudanças estão a transformar o cenário da defesa, exigindo novos investimentos e abordagens estratégicas, nos quais o NATO Innovation Fund é um esteio, por se verter em iniciativas focadas no desenvolvimento de tecnologias disruptivas emergentes, que pautam e pautarão crescentemente o futuro da defesa. Estas inovações não só melhoram as Capacidades de resposta e eficácia das forças armadas, mas também as s potenciais aplicações no setor civil, desde a saúde, energia, sustentabilidade e até a mobilidade urbana. É esta a amplitude da genética dual-use do NIF.

Portugal, com o seu crescente foco na inovação tecnológica, têm, com a participação no NIF, a oportunidade de se posicionar na vanguarda destas tendências, contribuindo para o desenvolvimento de soluções que abordam tanto desafios da economia da defesa quanto necessidades civis, assim como atender à crescente preocupação com a sustentabilidade e a eficiência energética e ao desenvolvimento de tecnologias mais sustentáveis e eficientes que intrincam com as infraestruturas criticas, sempre criticas para a Defesa.

Redesenhado a pirâmide de Maslow: em defesa de uma nova perspectiva

A reconsideração da Pirâmide de Maslow no contexto atual implica a redefinição da segurança como uma necessidade básica. Esta nova perspetiva coloca a segurança no alicerce da pirâmide, mas também acoplada a todos os restantes níveis na pirâmide, reconhecendo que, sem um ambiente seguro, as demais necessidades humanas, incluindo as fisiológicas e de auto-realização, não podem ser plenamente atendidas. Atente-se no caso dos cereais da Ucrânia que sem a devida segurança para o seu escoamento, causaram fome em áfrica. Bem como os Hospitais em Gaza, que sem segurança claudicaram e deixaram de garantir a suade aos cidadãos, ou dos Kibutz em Israel que sem segurança deixaram de produzir leite.

Esta abordagem reflete as mudanças prementes no mundo contemporâneo, onde a segurança se estende além da proteção física para incluir a segurança digital, económica e ambiental. A necessidade de segurança abrangente é agora uma premissa para o desenvolvimento humano e o progresso das sociedades. Este realinhamento na Pirâmide de Maslow não é apenas uma mudança teórica, mas uma adaptação necessária às realidades do século XXI, onde ameaças hibridas como terrorismo, ciberataques, e instabilidade política podem ter impactos devastadores nas vidas individuais e na sociedade como um todo.

Esta nova estrutura de necessidades (motivações) humanas, propõe agora, uma abordagem integrada, onde a segurança é vista como um direito humano fundamental, essencial para o bem-estar e desenvolvimento.

No contexto da economia de defesa, isso traduz- -se numa maior ênfase no investimento em tecnologias e estratégias que garantam a segurança em todas as suas formas, desde as fronteiras até a segurança de redes e sistemas de informação e principalmente a sobrelevação da proteção da vida. Portugal, ao participar ativamente no NATO Innovation Fund, pode desempenhar um papel crucial na promoção desta nova visão de segurança, através do desenvolvimento e implementação de tecnologias que não só fortaleçam a defesa nacional, mas também promovam a segurança global. Esta abordagem mais holística e integrada à segurança, pode servir como um modelo para outros países, demonstrando como o investimento em defesa pode ter um impacto positivo e abrangente, contribuindo para a estabilidade, sustentabilidade e prosperidade globais. Por conseguinte propõe-se o redesenhar da pirâmide da conforme a imagem, onde a segurança é a base para a concretização de todas as motivações humanas, mas também um paralelo indissociável da sua realização.

Implicações para políticas públicas e estratégias económicas

A redefinição da segurança como uma necessidade fundamental na Pirâmide de Maslow tem implicações significativas para as políticas públicas e estratégias económicas. Esta perspectiva potencia uma visão económica que implica uma aposta clara em skills de sociais (gestão), económicos (finanças e investimento) e militares (empreendedorismo e comando e controlo), por forma a potenciar o investimento em defesa e segurança, alavancando um marketing positivo que eleve os investimentos, de despesas orçamentais para pilar económico estratégico, que realiza investimentos no bem-estar e sustentabilidade da sociedade e potencia a economia nacional. Sem esquecer que para edificar este desígnio de colocar a segurança na base da pirâmide será imprescindível visão estratégica que obviamente requer Comando e Controlo, sabendo-se que “o Comando tem um pouco ciência e muita arte, o Controlo têm um pouco de arte e muita ciência”, aliás a teoria do controlo, formada por monitorização e observabilidade remete para essa necessidade. Por essa razão, a preposição enunciada acima, requisitará obviamente uma abordagem estruturada para integrar a segurança em todas as suas dimensões, incluindo a física, digital e económica, nas estratégias de desenvolvimento nacional. Isto implicará necessariamente uma colaboração mais estreita entre a Defesa e sociedade civil e em especial uma ativação dinâmica e desinibida do Triple Hélix, através do desenvolvimento de tecnologias dual-use e da transferência de conhecimento e tecnologias entre estes setores.

Em Portugal, isso pode potenciar um aumento do investimento para pesquisa e desenvolvimento em áreas críticas para a segurança e defesa, bem como o estímulo à inovação no setor privado através de incentivos e parcerias. As políticas públicas podem igualmente considerar o impacto social e económico da inovação em defesa, garantindo que os benefícios contribuam para o crescimento económico sustentável. A participação no NATO Innovation Fund pode ser um elemento chave nesta estratégia, oferecendo acesso a recursos, conhecimentos e redes internacionais, que podem contribuir para Portugal robustecer uma economia de defesa inovadora, ágil e de futuro, alinhada com os objetivos de segurança e desenvolvimento económico e sustentável.

O NATO Innovation Fund, as tecnologias emergentes e o ecossistema de inovação português

O NATO Innovation Fund (NIF), é uma iniciativa estratégica que representa uma viragem significativa na forma como a NATO aborda a inovação e a tecnologia. Com um foco explícito em tecnologias disruptivas emergentes (EDTs)(8), o NIF está, não apenas alinhado com as necessidades de defesa modernas, mas também, uma vez que é o primeiro fundo de venture capital multisoberano do mundo, posicionado como um catalisador para o desenvolvimento tecnológico a nível global. Constitui-se como um fundo umbrela que realizará principalmente investimentos directos em start-ups mas também noutros fundos (FoF). Para informações mais detalhadas aceda a www.nif.fund.

Paralelamente, o ecossistema de inovação nacional, demonstra um ambiente inebriante e propício ao desenvolvimento tecnológico, o que revela um Portugal empenhado na inovação, com uma série de programas de apoio à II&D, empreendedorismo e strat-ups, com o objetivo de verter de novas tecnologias no mercado. A interseção entre o NIF e este ecossistema de inovação nacional abre um leque de oportunidades para as start-ups portuguesas e proporciona uma oportunidade única para que startups inovadoras se envolvam diretamente em projetos Dual-use que possam servir a defesa e segurança, mas também a sociedade civil.

Ao participar em iniciativas apoiadas pelo NIF, estas empresas não só têm a possibilidade de contribuir para a defesa nacional e global, mas também de acelerar o seu crescimento, explorar novos mercados e validar suas tecnologias em cenários desafiadores. Investir na formação de uma start-up, é como investir na formação de um filho, só com investimento adequado se potenciam as suas capacidades. Visitando José Maria de Queirós, ele ensina- nos na sua obra, que ainda que a sociedade faça de um filho (neto) o que quiser (como o mercado o fará de uma start-up o que quiser), não há como não investir na sua “formação".

Por conseguinte, ao ser eleitas para investimento pelo NIF as startups portuguesas podem aceder a redes internacionais, financiamento e conhecimentos especializados, potencializando sua inovação e competitividade global e a “formação” de alicerces mais sólidos.

Estas sinergias entre o NATO Innovation Fund, as tecnologias disruptivas emergentes e o ecossistema de inovação de Portugal representam uma janela de oportunidades sem precedentes. As startups portuguesas, inseridas neste contexto, têm a possibilidade de desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de soluções inovadoras que atendam às necessidades de defesa modernas, ao mesmo tempo que impulsionam a economia nacional através da inovação e da criação de emprego de alto valor. A participação nestes projetos não só reforça o perfil de Portugal como um hub de inovação tecnológica de excelência na Europa, mas também potencia as empresas portuguesas para se destacarem em tecnologias emergentes, no cenário global.

O NIF, ao promover a colaboração entre as 24 nações aliadas da NATO no campo da inovação tecnológica, oferece um ambiente propício que permite que as startups não apenas adaptem as suas tecnologias para atender às exigências globais, mas também compreendam melhor as tendências internacionais, adaptando-se a um mercado cada vez mais competitivo e interconectado. Além disso, o apoio do NIF pode facilitar o acesso das startups a novas fontes de financiamento, parcerias estratégicas e oportunidades de expansão de mercado.

Estas sinergias são um exemplo claro de como a colaboração internacional e o investimento em tecnologia de ponta podem ser mutuamente benéficos. Para Portugal, esta interação não apenas fortalece suas Capacidades de defesa, mas também promove a inovação nacional, a diversificação económica e a criação de um ambiente empresarial mais dinâmico e resiliente. Este é um caminho promissor para as startups portuguesas, que podem alavancar estas oportunidades para se tornarem líderes em inovação tecnológica, tanto no cenário europeu quanto global.

Conclusão (exit)

A análise ao 'Erro de Maslow' nos tempos modernos oferece uma perspetiva renovada e refrescante sobre as necessidades (motivações) humanas, a importância e o contributo da segurança para que o ser humano veja supridas as suas necessidades e continue motivado a ascender os degraus da pirâmide. O contexto global atual, marcado por desafios de segurança multifacetados, exige uma reavaliação da nossa compreensão das necessidades humanas, colocando a segurança como a base fundamental para o desenvolvimento e bem-estar a que não são alheios os investimentos em Defesa, factualmente “só se pode prescrever a paz entendendo a guerra”, a natureza humana potencia a competição desde os primórdios, por conseguinte a competição ou até mesmo a coopetição requisitarão sempre Defesa. Em competição o mais forte é sempre o que têm a melhor Defesa e parafraseando na maior parte dos casos o melhor ataque começa sempre na Defesa.

O envolvimento de Portugal no NATO Innovation Fund é um passo significativo nesta direção, desbravando caminhos para a inovação em defesa, que não apenas reforça a segurança nacional, mas também contribuem para a estabilidade e prosperidade glorigionais. As oportunidades que o NIF pode aportar às start-ups portuguesas não se circunscrevem à inovação em Defesa. De facto, a genética dual-use do NIF abre as portas da defesa inclusive a empresas que tradicionalmente estão afastadas deste sector. O NIF, sendo um fundo “umbrela”, propõe-se, através do seu Sub-Fundo, investir 1000 milhões de euros durante 15 anos em tecnologias emergentes e disruptivas, paralelamente Portugal vêm realizando o excelente trabalho na inovação da maior parte destas tecnologias, pelo que estão criadas as condições essenciais para que se amarradas com sinergias o sucesso aconteça.

Este artigo procura destacar como a economia de defesa, as tecnologias dual- -use e a inovação, através do contributo do NIF, desempenham papéis cruciais na construção de um futuro mais seguro e próspero. Ao realinhar as prioridades, tanto a nível nacional como global, e ao investir estrategicamente em defesa e inovação, podemos criar uma sociedade onde a segurança é uma realidade acessível a todos, sustentando o crescimento e o desenvolvimento humano. Esta nova abordagem na compreensão das necessidades humanas oferece um caminho para um futuro onde a segurança e a prosperidade andam de mãos dadas, potenciando o papel da defesa na sociedade moderna.

O NIF é uma pedrada no charco, sobre a forma como a defesa é financiada, sobretudo devido à sua genética Dual-use.

Certamente, todo o dinheiro do mundo gasto em Defesa, seria muito melhor empregue, se investido na Paz, a despeito, tal só se verterá possível quando se encontrar a resposta para a questão: “Como assegurar a paz sem investir em Defesa?” Como?

 

(1) Dual Use - Itens de dupla utilização referem-se a bens, software e tecnologia que podem ser utilizados tanto para aplicações civis como militares

(2) Defense Advanced Research Projects Agency) - A agência de projetos de pesquisa avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

(3) BANI - Brittle/Frágil; Anxious/Ansioso; Nonlinear/Não-linear; Incomprehensible/ Incompreensível

(4) DIANA – Defense Innovation Accelerator for North Atlantic

(5) https://expresso.pt/economia/2021-12-13-Defesa-tem-potencial-para-ser-o-novo- -porta-avioes-das-exportacoes-portuguesas-e3084e23

(6) Triple Helix - O modelo de hélice tripla de inovação refere-se a um conjunto de interações entre a academia (a universidade), a indústria e o governo, para promover o desenvolvimento económico e social, conforme descrito em conceitos como a economia do conhecimento e a sociedade do conhecimento

(7) https://expresso.pt/economia/2021-12-13-Defesa-tem-potencial-para-ser-o-novo- -porta-avioes-das-exportacoes-portuguesas-e3084e23

(8) Observabilidade

 
Rui Metelo Marques

Rui Metelo Marques

Sargento-Chefe
Administração Militar

Sargento-Chefe de Administração Militar, Fundador da Conferência PI e dos Programa PROMBA e PROMBO

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