Estado da Nação em cibersegurança: o olhar de um CISO em Portugal

Estado da Nação em cibersegurança: o olhar de um CISO em Portugal

Nos últimos anos, a cibersegurança emergiu como um dos pilares fundamentais para a sustentabilidade e confiança nas operações digitais, tanto no setor público quanto no privado, em Portugal

O exponencial crescimento do cibercrime obriga as administrações a uma resposta à altura, redefinindo prioridades e estratégias. Os Chief Information Security Officer (CISO), observam de perto essa transformação e os desafios que a acompanham nomeadamente a crescente sensibilidade das administrações em relação às ameaças cibernéticas, a necessidade de investimento adequado, e a busca por soluções eficientes e integradas.

A realidade do cibercrime em Portugal

Nos últimos anos, Portugal tem assistido a um aumento significativo no número e sofisticação dos ciberataques. Desde ataques de ransomware a sofisticadas campanhas de phishing, os cibercriminosos tornaram-se mais audazes e organizados. Este aumento exponencial do cibercrime não só ameaça a integridade dos dados, mas também a confiança do público nas instituições e serviços digitais.

As administrações têm vindo a reconhecer esta realidade e a importância de investir em cibersegurança. Contudo, o desafio não está apenas na alocação de fundos, mas também na sua aplicação eficaz e estratégica. O investimento deve ser direcionado não só para a aquisição de tecnologias avançadas, mas também para a formação contínua de equipas e a promoção de uma cultura de segurança.

Investimento em cibersegurança: para além da tecnologia

Apesar do aumento do investimento em cibersegurança, muitos sectores ainda enfrentam uma escassez de recursos humanos qualificados. A formação de profissionais de cibersegurança é um processo demorado e dispendioso, e a procura por talento excede a oferta disponível. Esta lacuna de competências torna- se um obstáculo crítico na implementação eficaz de medidas de segurança.

Para mitigar esta escassez, é crucial que Portugal invista em programas de formação e certificação, bem como em iniciativas que promovam a colaboração entre o sector académico e a indústria. Além disso, as administrações devem fomentar uma cultura de cibersegurança desde a base, integrando práticas seguras nos processos diários e incentivando a consciencialização entre todos os colaboradores.

Da solução best of breed aos ecossistemas integrados

Uma tendência que tem vindo a ganhar força é a preferência por soluções de cibersegurança que operem em ecossistemas integrados, em detrimento das tradicionais abordagens best of breed. Embora estas últimas ofereçam soluções especializadas, a falta de integração pode resultar em lacunas de segurança e dificuldades na gestão de múltiplas ferramentas.

Adotar um ecossistema integrado permite uma melhor coordenação e comunicação entre as diferentes ferramentas de cibersegurança, oferecendo uma visão holística das ameaças e uma resposta mais ágil e eficaz. A integração de ferramentas de Cyber Threat Intelligence (CTI) e a utilização de feeds disponibilizados pelas mesmas são fundamentais para a detecção precoce e mitigação de ameaças.

O papel do CNCS e o futuro da cibersegurança em Portugal

O Centro Nacional de Cibersegurança (CNCS) tem desempenhado um papel crucial na promoção de políticas de cibersegurança em Portugal. Através de iniciativas de sensibilização, formação e colaboração com entidades públicas e privadas, o CNCS tem contribuído para a construção de um ecossistema de cibersegurança mais robusto e resiliente.

No entanto, o caminho a percorrer é longo e desafiante. É necessário um esforço contínuo e coordenado para enfrentar as ameaças emergentes e adaptar- se às constantes evoluções tecnológicas. A cibersegurança deve ser encarada como uma responsabilidade partilhada, onde cada ator, desde o cidadão comum até às grandes corporações, tem um papel a desempenhar.

Conclusão

O estado da nação em cibersegurança em Portugal reflete um panorama de desafios e oportunidades. O aumento exponencial do cibercrime exige uma resposta robusta e coordenada, sustentada por um investimento estratégico e uma cultura de segurança enraizada. A escassez de recursos humanos qualificados deve ser abordada através de uma aposta firme na formação e certificação.

A transição para ecossistemas integrados, em detrimento das soluções best of breed, representa um passo significativo na criação de uma defesa cibernética mais eficaz e coesa. A integração de ferramentas de CTI e a utilização de feeds são componentes essenciais desta abordagem.

O trabalho desenvolvido pelo CNCS é um alicerce fundamental neste processo, mas a responsabilidade pela cibersegurança deve ser partilhada por todos. Apenas através de um esforço coletivo e contínuo poderemos construir um futuro digital seguro e resiliente para Portugal.

Como CISO, permaneço empenhado em contribuir para este objetivo, garantindo que as administrações estejam preparadas para enfrentar as ameaças de um mundo cada vez mais digital e interconectado.

Miguel Gonçalves

Miguel Gonçalves

CISO
CUF

Apaixonado por motos Italianas e com mais de 25 anos de experiência na área de redes e cibersegurança, traz consigo um sólido conhecimento em planeamento, implementação e gestão de infraestruturas de TI. Com uma carreira internacional, trabalhou em Espanha, Cabo Verde e Moçambique, adquirindo valiosos conhecimentos em diferentes contextos culturais e tecnológicos. Atualmente, ocupa o cargo de CISO na Cuf, onde lidera estratégias de segurança cibernética e contribui para a proteção das operações críticas da organização.

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