Este artigo tem como objetivo convocar alguns dos principais desafios globais do presente e futuro – riscos, ameaças e oportunidades - com impactos, efeitos e consequências nas organizações, elucidando sobre a relação e o valor da Cibersegurança no ESG
O ESG (Environmental, Social e Governance) pode ser entendido como um conjunto de critérios ou princípios de avaliação usados para medir o desempenho e as práticas organizacionais, rumo ao futuro sustentável. Estamos a falar, sobretudo, de 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) criados pela ONU em 2015 no âmbito da Agenda 2030, tendo a Sustentabilidade como o desígnio e o ESG como a framework operativa desta visão com indicadores, métricas e relatórios não financeiros das organizações.
Uma nota sobre o que é a Sustentabilidade. Numa síntese, é a capacidade de utilizar os recursos naturais sem comprometer o bem-estar das gerações futuras. O objetivo principal é encontrar o equilíbrio entre o desenvolvimento económico-social e a preservação do ambiente. Neste artigo procuraremos identificar as áreas em que a Cibersegurança será instrumental para o ESG, como prática indispensável no presente e estratégica para o futuro (sustentável) das organizações. Esta é ainda uma área pouca explorada, mas que valoriza a Cibersegurança igualmente nesta dimensão. Mas em que pilares do ESG estará presente a Cibersegurança? Como é que poderemos valorizar o seu contributo para o ESG? ContextoO debate em torno da Cibersegurança tem-se situado, em geral, no domínio da segurança e defesa - incluindo a ameaça interna e o ataque externo - em que a organização é olhada como um castelo, se possível inexpugnável, com o foco na segurança daquele que era (e ainda é) o perímetro da segurança.
Esta realidade, num mundo cada vez mais digital, têm vindo a esbater-se e a ser substituída por organizações em que o castelo é o resultado de um conjunto de stakeholders internos, e também externos, que participam na definição da estratégia e nas operações, numa lógica de ecossistemas colaborativos de negócio. Com a digitalização crescente da economia e das organizações, num quadro de globalização num mundo multipolar, de novos teatros de operações e de tecnologias emergentes como a IA Generativa, iniciou-se um processo de transição para uma nova ordem estratégica e competitiva. Neste novo quadro, o perímetro de segurança passou a estar mais difuso e a superfície de ataque mais dinâmico, maior, complexa e mutável (ex. Third Parties e Supply Chain). A Cibersegurança é assim um desafio do presente, em que a prevenção está em alerta permanente e as respostas e a recuperação estão sob pressão perante atacantes mais sofisticados. Os desafios do ESG e/na cibersegurançaA resposta pode parecer ambígua, mas a verdade é a Cibersegurança e o ESG estão destinados a trabalhar em conjunto. Porquê? Porque ambos têm uma visão 360º da organização (interna e externa), objetivos estratégicos comuns e complementam-se.
A Cibersegurança é, pois, parte integrante da estratégia ESG e o ESG, por seu lado, deve “apresentar-se” à Cibersegurança como um parceiro estratégico. A Cibersegurança está presente nos três pilares ESG. Neste artigo iremos destacar alguns dos principais impactos no pilar Social e no pilar do Governo. Porém, importa salientar que a Cibersegurança, via sustentação do teletrabalho, também impacta positivamente o pilar do Ambiente. O pilar Social é fundamental para assegurar a continuidade da oferta, pela proteção dos ativos e por acompanhar a gestão dos riscos (tecnológicos) na perspetiva de seleção, validação e acompanhamento dos parceiros de negócio. Aqui, a Cibersegurança está presente na validação da operacionalidade da Supply Chain e onde emerge o tema TPRM (Third Party Risk Management). A J.P. Morgan Global formulou que as estruturas ESG são como um meio tangível de avaliar o comportamento corporativo, proporcionando informações sobre este comportamento e os riscos de Cibersegurança. Indicou como exemplos os efeitos e consequências da pandemia em 2020 (trabalho remoto e maiores custos associados), o aumento das medidas de regulação para a proteção e segurança, e a Cibersegurança como uma métrica de proteção social. O pilar Governance , cujo modelo é indissociável da cultura organizacional, está assente numa estrutura jurídica que permita oferecer confiança aos stakeholders. Enquanto sistema, operacionaliza-se na definição de objetivos, no processo de tomada de decisão, na monitorização adequada do cumprimento das políticas e procedimentos (ex. Risco e Compliance), bem como na avaliação do desempenho. O comportamento ético e a integridade da gestão são os “subprodutos” da cultura organizacional, que encerra normas éticas e comportamentais, assim como a forma como são comunicadas, aplicadas e reforçadas. A este nível, incorporar a Cibersegurança na gestão estratégica dos riscos é essencial. Ao mesmo tempo, os modelos de governo modernos (vide as indicações do IPCG – Instituto Português de Corporate Governance) posicionam o tema da Segurança das Organizações enquanto tema estratégico, exigindo o alinhamento dos investimentos em Segurança com os objetivos de negócio, responsabilização ao mais alto nível e boas práticas na gestão de programas de Cibersegurança. Porque deve o ciber risco ser integrado na estratégia ESG?O conceito de ESG nasceu em 2005. No entanto, só no início de 2022 é que o ESG “convocou” a Cibersegurança para o seu território, quando o World Economic Forum (WEF) recomendou, no anual Global Cybersecurity Outlook de 2022, que a Ciberesegurança fizesse parte da estratégia ESG, uma vez que os seus riscos, do ponto de vista da Sustentabilidade, correspondem aos riscos mais imediatos que as organizações enfrentam na atualidade. Ou seja, em termos da Resiliência atual, a Cibersegurança (ainda) não é uma opção e, visando o seu desenvolvimento futuro, é ainda um tema Estratégico. Na ocasião, para pressionar esta visão, o WEF passou a mensagem aos gestores, presentes em Davos, que, se não trabalharem no sentido da implementação de um “Modelo de Governo de Cibersegurança”, as suas organizações serão menos sustentáveis, logo menos resilientes, além de serem- -lhes vedado o acesso a determinados negócios e mercados. O WEF aponta três razões pelas quais o Ciber Risco deve ser incluído nas estratégias de ESG.
Para o WEF, a criação de uma estrutura padrão para medir o risco em Cibersegurança ajudaria as organizações e os reguladores a compreendê-lo e a geri-lo como parte da sua estratégia ESG. E alerta de que as regulamentações por si só não substituem uma capacidade de gestão integrada, orientada ao risco, adequando controlos e colocando o tema da Cibersegurança como uma prioridade do presente e estratégica para o futuro. Em síntese, a Cibersegurança e o ESG estão destinados a ser parceiros estratégicos, caminhando juntos neste novo ciclo global, de maiores interdependências onde se joga o nosso futuro comum. E, sobretudo, são dois dos principais pilares essenciais numa lógica de ética prospetiva, de valorização de práticas empresariais responsáveis e sustentáveis que visam o bem-estar da nossa sociedade atual e das gerações vindouras.
Fontes / Bibliografia WE | https://www.media.mit.edu/articles/cybersecurity-is-an-environmental- social-and-governance-issue-here-s-why/, Mar 1, 2022 KPMG | Cybersecurity in ESG. It’s time to view ESG and cybersecurity through the same lens. | KPMG International, 2023 KPMG ESG and cyber security are two sides of thesame coin, 2024 PwC | https://www.pwc.com/us/en/tech-effect/cybersecurity/building- -trust-with-esg-cybersecurity-and-privacy.html, 2022 JP Morgan | Why is cybersecurity important to ESG frameworks?, August 19, 2021 Nomura | Why Cybersecurity Is the BiggestHidden ESG Risk, March 2023 If P&C Insurance | Integrating cybersecurity and ESG, 1/12/2022 Jornal ECO | https://eco.sapo.pt/2022/06/06/ quatro-em-cada-10-empresas-nao-compram-seguro-cibernetico/ Jornal Expresso | https://expresso.pt/economia/2022-02-11-ataques-ciberneticos- menos-de-1-das-empresas-tem-seguros-de-protecao-diz-mds |
Bruno Marques, Idalécio Lourenço e Fernando Gomes de Amorim
Presidente, Analista e Membro da Direção
CIIWA
Bruno Marques é Consultor, Professor Convidado da Academia Militar, Investigador Universitário, Especialista em Cibersegurança, C-CISO, Presidente da CIIWA. Idalécio Lourenço é Analista e Consultor, Membro da Direção da CIIWA, Ex-Vogal Executivo do CA do CHOeste, Pós-Graduado em Intelligence e MArketing, Curso de Cibersegurança (IDN). Fernando Gomes de Amorim é Gestor com mais de 25 anos de experiência no setor financeiro, nas áreas de Estratégia, Liderança e Gestão do Risco. É presidente da Comissão Executiva da Melior S.A., Auditor do Curso de defesa Nacional e Membro da Direção da CIIWA - Núcleo Norte.
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