No mundo complexo e em acelerado ritmo de mudança em que vivemos, os modelos de negócio movem-se na direção de uma maior complexidade e interdependência, no que se denomina por economia em rede
IntroduçãoNo mundo complexo e em acelerado ritmo de mudança em que vivemos, os modelos de negócio movem-se na direção de uma maior complexidade e interdependência, no que se denomina por economia em rede. Neste contexto, a cibersegurança é um pilar de sustentação das sociedades modernas. Todavia, argumentamos que a sua abordagem estratégica e modelo de governo devem evoluir, de forma dinâmica e coordenada, para acompanhar o quadro em que nos movemos. Em síntese, impõe-se na cibersegurança uma estratégia colaborativa e uma adaptação das lideranças para um quadro mais participativo, conceitos que iremos sucintamente enunciar de seguida. Novos desafios exigem novas respostasOs atuais ambientes organizacionais caracterizados por operações cada vez mais integradas e intensas em trocas de informação e conhecimento, pressionam as lideranças para um novo sistema de resposta. Na economia do futuro, a cibersegurança, gestão dos riscos e compliance, devem ser perspetivadas como antecâmaras do ativo mais precioso para a nossa vida em movimento – a confiança. O conceito de confiança ascende a um patamar estratégico, sendo possível encontrar facilmente referências ilustrativas da importância desta dimensão: segundo o IDC(1), do conjunto das 100 maiores empresas da revista Fortune, até 2025 40% destas irão exigir indicadores de confiança como requisito de negócio; cerca de 66% da gestão de topo das maiores 2000 empresas irão promover iniciativas e fixar métricas nesta temática. Neste contexto, a cibersegurança deverá ser entendida e projetada como uma prioridade estratégica, rumo à sustentabilidade dos ecossistemas abertos de negócio. Todavia, o seu modelo atual de gestão deverá transformar-se e a adaptar-se à dinâmica emergente das estratégias digitais e das ciberameaças. Deveremos passar de um paradigma da cibersegurança para o da ciberresiliência (WEF(2)), em linha com a sustentabilidade digital (ISACA(3)), fazendo-se apelo a uma abordagem mais dinâmica, mais inclusiva e holística, onde são reconhecidas as interdependências internas e as que decorrem das interações com parceiros críticos. Mas para a evolução da cibersegurança, quais serão as novas capacidades e fatores críticos? Qual o papel da colaboração e das lideranças colaborativas enquanto forças motrizes, rumo à supracitada economia da confiança? Cibersegurança: um sistema complexo e dinâmicoSão múltiplos os atores do sistema de valor associados à cibersegurança, onde se destacam interdependências, que interagem simultaneamente e retroagem em rede. Empresas privadas, organismos públicos, universidades, fornecedores de serviços, cidadãos, estados, entidades supranacionais, organizações não governamentais, etc., são exemplos de atores que interagem como nós desta rede. Esta visão de complexidade altera profundamente a forma de análise e convida a novas sínteses. Cada um dos nós desta rede, com o seu comportamento individual e social, irá influenciar a articulação entre todos, promovendo a sua adaptação dinâmica. Neste quadro profundamente interdependente, relacionamentos fortes e um modelo de liderança colaborativa (Hawkins, D., 2017(4)) irão ser determinantes para se obter um maior nível de output final. Aplicação da colaboração na cibersegurança: linhas orientadoras e exemplosMas o que significa aplicar uma abordagem colaborativa à cibersegurança? Será que existem exemplos desta forma de atuação? O tema da colaboração enquanto domínio da gestão é relativamente novo, sendo que se encontra em destaque nas agendas internacionais (ICW(5)). Aplicando os frameworks colaborativos à cibersegurança, é possível distinguir os seus impactos profundos, quer ao nível estratégico, começando desde logo pela adoção de um modelo de governo mais participativo, quer ao nível operacional, designadamente na implementação mais efetiva de controlos decorrentes de atitudes de maior partilha e maior sentimento de pertença, incluindo o diálogo constante com parceiros críticos. Na tabela seguinte, exploratória, sistematizam-se os impactos da colaboração utilizando o modelo NIST Cybersecurity Framework(6), que enuncia as fases de Identificação, Proteção, Deteção, Resposta e Recuperação como elementos constitutivos de um programa de cibersegurança.
É possível apontar exemplos de colaboração, nacionais ou internacionais, que nos motivam e justificam a abertura estratégica das organizações nesta direção:
Perante estes exemplos, fica bem patente que nenhum agente, de forma isolada, conseguirá ter sucesso e endereçar satisfatoriamente este tema. Apenas um esforço coletivo, articulado, aplicando os princípios da colaboração, permitirá promover um quadro mais resiliente e ajustado ao futuro. Conclusão: o futuro da cibersegurança passa pela colaboração estratégicaA cibersegurança deve ser cada vez mais entendida como uma prioridade estratégica. Todavia, é um tema complexo, que envolve trabalhar em conjunto com diversos atores internos e externos, assente em relações de confiança, o que vai muito para além de um desafio meramente técnico. A alteração de paradigma da cibersegurança para a ciberresiliência e cibersustentabilidade faz apelo a uma abordagem de natureza mais integradora. Lideranças colaborativas, que possam inspirar, motivar e construir ambientes de partilha, serão instrumentais para o sucesso das iniciativas no âmbito da cibersegurança. A CIIWA, segundo uma lógica de serviço público e à comunidade, em parceria com outras entidades, continuará a investigar e a promover o aprofundamento de práticas, sistemas e métricas colaborativas no contexto da cibersegurança. Os líderes e os agentes da mudança decerto não ficarão indiferentes a este repto e ao seu enorme potencial. Este é um desafio de magnitude crescente, transformador do futuro, que convida à ação imediata!
(1) IDC (2020). New Future of Trust Framework Redefines the Concept of Enterprise Security (2) Why we need to move from cyber security to cyber resilience | World Economic Forum (3) Sustainable Development for Digital Transformation, Part 1. ISACA Journal (Set.2019) (4) Hawkins, D. (2017). Raising the Standard for International Collaboration. Melrose books. (5) ICW (2021). Thought leadership insights into the future of collaborative working. Institute for collaborative working (6) Consultado em https://www.nist.gov/cyberframework (7) Adaptado de ICW (2016). Principles for Effective Adoption and Implementation of ISO 44001 Collaborative Business Relationships Management Systems - Requirements Framework (8) ISO 44001 (9) https://www.whitehouse.gov/briefing-room/statements-releases/2021/08/25 |
Bruno Marques
Vice-Presidente
CIIWA
Vice-Presidente da CIIWA, Manager na Shift Consulting, Membro do ISACA Lisbon Chapter, Investigador e Professor Universitário
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