Analysis
O Brigadeiro-General Paulo Viegas Nunes lidera desde março de 2022 a empresa pública SIRESP SA, que tem por missão gerir a rede de telecomunicações do Estado, e à qual todas as entidades públicas podem estar associadas
Por Egídio Carreira . 30/03/2023
O SIRESP realiza por estes dias um Bootcamp na Madeira. Qual a importância deste evento para a rede SIRESP? A realização do Bootcamp é essencialmente para produzir mudança, mudança essa ao nível da capacitação. Os dois objetivos principais do Bootcamp são exatamente desenvolver competências e operacionalizar soluções. O Bootcamp, pela sua natureza, é uma atividade que está motivada para a parte prática, ou seja, para mobilizar a ação, dinamizar efetivamente aquilo que é necessário fazer e produzir para que o sistema seja, por um lado, utilizado de uma forma mais eficiente e eficaz e, por outro, que a sua evolução e a sua dinâmica de acrescentar valor a todo o ecossistema que serve se concretize. O SIRESP Bootcamp tem permitido introduzir no ADN deste ecossistema este fator essencial que é a inovação. Na prática, o que o Bootcamp vai fazer é criar o elo estruturante constituído por aquela trilogia entre pessoas, processos e tecnologia; faz a ponte entre todos e permite, de uma forma integrada, produzir mudança. 17 anos desta rede, desde há quatro anos na órbita do setor empresarial do Estado. Como é que está a rede hoje? Qual é o estado de realização da sua missão? Primeiro, é preciso dizer que a rede não está há 17 anos numa parceria público-privada. Em 2019 houve a decisão do Estado de adquirir o capital social completo da rede SIRESP, e a rede é desde essa altura é 100% detida pelo Estado. Isto significa dizer que essa rede SIRESP como empresa pública – integralmente pública – só tem um fundamento e um objetivo: o serviço à comunidade e a salvaguarda do interesse do Estado. Estes dois princípios norteiam a atividade da empresa e tem uma vocação forte e incontornável de se aproximar da comunidade que serve e oferecer-lhe as melhores condições. Efetivamente, as condições de exploração da rede têm vindo a melhorar, sustentadamente, desde 2017 com os acontecimentos [dos incêndios] de Pedrógão; aquilo que aconteceu à rede foi uma transformação muito profunda em redundância de transmissão. Significa que a rede, para lá da transmissão terrestre, passou a ter transmissão satélite, o que faz toda a diferença; significa que, se queimar um cabo de transporte do sinal, a rede automaticamente comuta para a comunicação satélite. Isto acontece não só com o corte do cabo, mas com a redução ou degradação da qualidade do serviço do cabo; há um limiar de comutação que é ativado logo que estes tipos de situações acontecem. Por outro lado, a redundância de energia. As falhas de energia em determinado tipo de situações são frequentes e, se vierem a acontecer, as estações têm autonomia de energia e com baterias locais que dão uma longevidade de grande sustentação da operação das estações base. Têm também uma estratégia de energia socorrida que, caso o tempo ou a janela de tempo comece a comprometer a eventual disponibilidade dessas baterias, são acionados grupos de geradores que permitem de facto sustentar a operação ininterrupta da rede. A rede, de facto, e especialmente no último ano, tem vindo a seguir, como disse, uma aproximação à comunidade e de exploração de sinergias ao ponto de criarmos interoperabilidade dentro da mesma rede com outras redes. Significa que, para além destas duas redundâncias de transmissão e de energia, existe agora uma redundância de rede. Portanto, a rede está a ser refundada como produto do concurso internacional que foi recentemente lançado, e que teve a sua concretização a 22 de dezembro com a adjudicação dos contratos e com o envio para o Tribunal de Contas [TC] dos respetivos contratos que já receberam o visto do TC. A execução destes contratos já está em curso, e isso significa, também, que toda a componente de transmissão foi robustecida. Neste momento, o core da rede tem uma largura de banda muitíssimo superior do que tinha anteriormente. Neste momento, temos resiliência de transmissão terrestre, resiliência de energia, resiliência de tipologia de rede e com múltiplas redes. A rede SIRESP, neste momento, é uma rede de redes. Com base nessa visão SIRESP, não só se apoia nas outras redes como oferece apoio às outras redes. Vamos ter várias demonstrações desta evidência neste Bootcamp, sendo que um dos objetivos é desenvolver novas soluções, e as soluções que aqui desenvolvermos são de integração plena das propostas que são apresentadas com o funcionamento de rede. Este exercício vai mobilizar todos estes demonstradores em contexto de operação da rede. Resiliência parece ser aqui a palavra-chave. Estamos a falar de uma matéria altamente sensível onde qualquer falha ou quebra de segurança tem sempre custos enormes. Há também uma determinada pressão dos operadores, agentes da salvaguarda própria da segurança interna do Estado. Como é que está este nível de resiliência da rede? É quase total? Descrevi as múltiplas camadas de resiliência que a rede neste momento possui, mas o SIRESP, que é responsável pela gestão da rede, tem a consciência não só do desafio de operar uma rede desta natureza, mas também do que efetivamente significa a rede SIRESP. A rede SIRESP é a única rede que interliga todas as instituições e serviços do arco da soberania do Estado. A rede SIRESP, para além de uma rede de emergência e segurança, é também uma rede de soberania. Se refletirmos sobre o que isto significa, significa exatamente ligar – por proteção dos cidadãos – a segurança dos cidadãos e a defesa dos cidadãos. Não existe neste momento, em termos do Estado Português, nenhuma rede que satisfaça este critério: servir simultaneamente a parte da proteção, da segurança e da defesa do Estado. É por essa razão que podemos dizer que, estrategicamente, a rede SIRESP é um recurso incontornável do Estado, tem de servir o interesse público e deve ser sempre vista como uma rede de soberania do Estado. Atravessamos uma conjuntura internacional marcada pela instabilidade; temos uma guerra em curso na Europa, tivemos uma pandemia. São circunstâncias que colocam e testam ao máximo o funcionamento desta rede. Esta perspetiva também é importante para a rede? Esta rede é independente de ser interna ou externa e tem de garantir a execução coordenada e o controlo de um conjunto de sistemas, de forças e de serviços que têm de atuar em unicidade. É a tal velha e tradicional observação que se usa quando se pretende uma ação concertada, é unidade de comando e unidade de esforço. Para isso, precisamos de comunicações fiáveis e seguras e a rede SIRESP, neste momento, responde a esse desígnio e aquilo que temos assistido já ao longo destes três primeiros dias do Bootcamp é que estamos no bom caminho. É a esse desafio que temos tido resposta por parte dos participantes e acreditamos piamente que, quando terminarmos o Bootcamp, todos estes critérios e requisitos vão sair reforçados desta iniciativa. Desde 2019 na esfera empresarial do Estado, portanto, com financiamento público. Há problemas de financiamento ou de reequipamento tecnológico a pensar na implementação total do 5G, eventualmente até em matéria de outros equipamentos tecnológicos ou até recursos humanos? Não. Neste momento, o Estado disponibilizou à rede os recursos financeiros necessários para equacionar o equipamento e a reconversão da rede, julgo, até, que a expressão mais correta é o refundar da rede. A rede neste momento está a ser refundada com uma nova visão tecnológica, preparando-a para o futuro, para o tal salto que, de alguma forma, já está indelevelmente traçado da migração para o LTE e para o 5G, para serviços de maior largura de banda. Esse tipo de migração não é algo que seja imediato; o benchmark que temos – até porque a rede 5G tem um índice de maturidade relativamente reduzido – é que se processará e tem vindo a ser definido dessa forma, ao longo de uma década, toda essa transformação. Já procuramos ativamente capitalizar e integrar conhecimento sobre essa transformação. O que estamos a fazer no Bootcamp permite estreitar estes laços com a indústria e ver quais são os benefícios e os cuidados que temos de ter ao abraçar este desafio da banda larga. A rede vai ajustar-se à medida das necessidades dos utilizadores, àquilo que forem os seus critérios de utilização. Se um utilizador não tem necessidade de banda larga, não há razão absolutamente nenhuma para que a esse utilizador seja disponibilizada banda larga. A rede é como um ecossistema vivo: vai-se transformar à medida das necessidades e dos requisitos dos utilizadores, e não padronizar a rede de uma forma que pode ser um elemento de menor fiabilidade ou menor resiliência para a rede. Essa é uma preocupação que temos.
A IT Security é Media Partner do SIRESP Bootcamp 2023 |